28 maio 2011

A estrada

Muda alguma coisa dizer que não quero mais, quando não é verdade?
Sou feita de sentimentos fortes e vontades fracas; sonhos construídos e realidades imaginadas – por essa razão, continuo a bater com a cabeça tantas vezes e o sentimento é o mesmo.
Gostava que o meu caminho fosse sempre uma completa estrada de alcatrão. Ainda que por vezes tivesse as suas pequenas e recuperáveis falhas, eu saberia que a maioria do seu caminho é liso, é limpo… pleno. Em vez disso começa por ser uma estrada de paralelos, cheia de solavancos e falhas. Tropeço tantas vezes nela, que penso e repenso onde errei – que passo a mais; que passo a menos. Deveria ter ido mais devagar? Ou então não deveria ter esperado tanto?
Quando caminho sobre esta estrada, as paisagens são simples passagens de memórias e quando tropeço, essas memórias são substituídas pela realidade que me envolve. Caída no chão, recupero da queda e continuo a caminhar, voltando as memórias a invadir todo o meu caminho.
E depois de todas as quedas, a estrada de paralelos vai se tornar numa estrada de alcatrão. O caminho duro vai embelezar e saberei que valeu a pena.
Afinal de contas, um caminho é sempre um caminho e nunca sabemos o que esperar no fim. Talvez por isso é que sou constituída de vontades contraditórias, deixando sempre o sentimento mais forte, o mais verdadeiro e o melhor, me governar.

08 maio 2011

O passo a tomar

Imagina-te em cima de uma ponte – de uma extensa ponte. Agora, o que vês daí? O que sentes enquanto estás ai em cima? Não te vou descrever aquilo que espero que vejas. É preferível que olhes por ti, imagines e realizes. E o que sentes? Liberdade? Fascínio? Serenidade? Raiva?
Não, não posso descrever o que sentes. Na verdade, tenho dificuldades em perceber o que pretendes com fachadas, mentiras e partidas, depois de uma história longa pronta a acabar, quando eu apenas pensava que ainda se encontrava no início.
Para ti, posso ser tudo. Por ti, posso fazer tudo. Mas hoje, vou te dizer como me sinto em cima de uma ponte de madeira. Em cima dela, sinto-me frágil visto que uma ponte destas pode sempre ir a baixo com uma simples pressão ou, uma complexa fragmentação pode desmoronar tudo e eu cair com ela. Mas então, se estou num plano tão instável, porque razão continuo aqui?
Estou apaixonada é verdade, mas o que é ela comparada à felicidade? Não deveria ser ela, aquela que abraça a mesma?
Compreendes quando digo que, quando te habituas a algo, a um vício, se torna difícil de deixar? A realidade é que esta ponte prendeu-me a ela de uma forma que eu não queria. Nesta ponte, tudo o que foi vivido, criou raízes debaixo de mim e agora, cortar esta raiz pode ter dois finais: ou murcho, ou continuo viva. Mas sabes, tenho medo. Medo de ficar sozinha. Medo de murchar.
Visualizo o que vejo daqui. Agarro-me à ponte porque mesmo estando presa, tenho medo de cair. Olho em frente e um fundo de substâncias do passado envolve como um filme que não pára. Olho para trás de mim – não vejo nada. Olho novamente em frente – nada!
E se eu cortar a raiz? E se eu, finalmente, ganhar coragem e sair desta ponte? Sim, vai custar. Não custa sempre? Mas e então? Posso continuar viva, não posso?